Quem sabe faz a hora, não espera acontecer... a bicicleta já não é o veículo alternativo, e sim, o carro.
 
     
 
      
Buscar o significado pleno das palavras auxilia a 
conquistar melhor compreensão de tudo o que elas tocam, encerram, 
explicitam ou alcançam. No título deste texto ousamos colocar a 
expressão “combinação perfeita” arriscando-nos ao exagero. Mas, como 
escrever é uma aventura, faço votos que ao final da leitura tanto quem a
 leu quanto quem a produziu possam sorrir, de acordo.
O verbo “combinar” pode ser compreendido de 
inúmeras formas, tais como a ação de condizer, compatibilizar, adaptar, 
associar ou mesclar, enfim. Já o adjetivo “perfeito” remete à 
qualificação primorosa, ideal, sem arestas, sem retoques ou absoluta de 
algo, alguém ou alguma coisa.
A combinação perfeita anunciada para a tríade 
‘pessoas, cidade e bicicleta’ pode ser interpretada como o mais 
harmonioso arranjo produzido para contemplar, entre tantas coisas, os 
deslocamentos, a saúde, o lazer, o esporte, a cultura, a solidariedade, 
bem como a inteligente forma de conservar a diversidade socioambiental 
para o hoje e para o futuro próximo (leia-se sustentabilidade). É 
possível dizer, então, que tal combinação contempla a vida em todas as 
suas dimensões.
Nada tem mais compatibilidade com a mobilidade humana do que a 
bicicleta... Nada consegue transformar mais seu usuário em uma pessoa 
melhor do que a bicicleta.
A bicicleta é a que está mais perto da dimensão do pedestre, 
seja pela posição de pedalar, seja pela velocidade empregada e pelo 
volume de espaço ocupado.
A escolha das pessoas pela bicicleta é uma ação 
plena de sabedoria, porém, passa, muito especialmente, pela prática, 
pela experiência. Não existe teoria sem prática. Por exemplo, se a 
Associação Transporte Ativo, do especialista Zé Lobo, consegue 
desenvolver avanços superiores em mobilidade em Copacabana, Rio de 
Janeiro (veja sobre as Ciclo Rotas em ta.org.br), e se ampliam os 
resultados destas práticas chegando tal conhecimento a outras partes do 
país, é fato que estão gerando conhecimento de alto nível, mas também é 
posto que os impactos disto estarão intimamente ligados à geração de 
felicidade, de paz e de bem-estar para aquelas comunidades.
Quando se pensa em mobilidade por bicicleta, 
afeta-se substancialmente pessoas, tanto as que pedalam quanto as que 
ainda não. Sabe, é um caso daqueles que Vandré tão bem decantou: 
“...quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”, e como bem ensina Zé
 Lobo em suas palestras Brasil adentro e afora, quem ainda não se deu 
conta de que a bicicleta já não é o veículo alternativo, e sim, o carro,
 esta pessoa ainda se encontra no século XX.
Ainda que se trate de um veículo, a priori, 
individual, a vida em bicicleta é a experiência de sociabilidade e 
coletividade do século XXI, a qual se coloca integralmente contrária ao 
egoísmo universalista do automóvel.
Aliás, este sentimento repleto de ostracismo está 
claramente presente nas propagandas televisivas do mercado de 
automóveis. São inúmeros os exemplos atuais, mas três chamam extremante a
 atenção.
No primeiro deles, a marca de automóveis faz uma 
apologia à inveja e à produção de desigualdades, quando um garoto indo à
 escola, no banco de trás do carro, pede ao pai para estacionar em tal 
lugar, vários dias seguidos. Somente ao final da propaganda é que se tem
 a imagem de que aquele ponto escolhido era de onde os coleguinhas da 
janela da escola poderiam vê-lo desembarcar.
Ou seja, desde cedo, o culto ao poder do automóvel.
Já a segunda propaganda, na verdade imitada por 
inúmeras marcas, apresenta que ao entrar no carro ‘x’ todos os demais 
carros desaparecem, é incrível! As ruas ficam com quase nenhum pedestre,
 e os que lá existem ficam hipnotizados por ver aquele veículo andando 
sozinho pelas ruas carregando apenas um indivíduo. É de pasmar, para não
 dizer o quanto é ridículo.
E o terceiro exemplo, para não ir muito mais além, é
 o do valet que busca um determinado modelo de carro no estacionamento. É
 claro que neste estacionamento só existem modelos daquela marca. 
Plantando segregação, inveja, egoísmo, luxúria, individualismo, a passos
 largos se distancia da mobilidade sustentável a tal indústria do 
automóvel.
Mas, e quanto às propagandas de motocicletas? Tudo
 o que se vê da posição do piloto é um túnel estreito chamado estrada e a
 paisagem só é percebida ao final dos reclames, quando a moto está 
parada em cima de uma montanha ou na beira da praia.
O que é mais insustentável do que a exclusão em qualquer nível? O que pode ser menos moderno do que a segregação?
Quando abordamos inicialmente sobre a 
compatibilidade, podemos vislumbrar, apenas para ilustrar, a bicicleta 
em sua dimensão de veículo, a fim de entender o quão significativa é 
esta associação entre pessoas, cidade e bicicleta. De todos os veículos 
que se elevaram à categoria de meios de transporte, a bicicleta é a que 
está mais perto da dimensão do pedestre, seja pela posição de pedalar, 
seja pela velocidade empregada e pelo volume de espaço ocupado.
Fonte: revistabicicleta.com.br 
 
 
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