Piratas geram prejuízo anual de R$ 100 milhões com furtos de combustíveis no AM
Após os furtos, roubos e ataques de
piratas contra as embarcações, a Polícia Civil do Amazonas se reuniu com
representantes do setor de transporte fluvial de cargas e passageiros. A
reunião ocorreu na tarde desta terça-feira (2), na Delegacia Fluvial em
Manaus.
O Sindicato das Empresas de
Navegação no Estado do Amazonas (Sindarma) estima que, anualmente, o
volume de prejuízos somente com os desvios de combustíveis atinja R$ 100
milhões. Uma balsa de R$ 300 mil e de 400 toneladas foi furtada na orla
de Manaus no último dia 28.
O setor
de navegação tem sido alvo de criminosos que atuam nos rios, conhecidos
como piratas. Os ataques ocorriam com maior frequência em trechos de
rios no interior do Amazonas e em áreas mais isoladas. Porém, as
quadrilhas agora também atuam na orla da região urbana de Manaus.
Anualmente,
3 bilhões de litros combustíveis são transportados na modalidade
fluvial em embarcações no trecho Porto Velho/Manaus. As balsas
carregadas com gasolina e outros tipos de combustíveis são os principais
alvos das quadrilhas de piratas, que ameaçam e até subornam tripulações
para furtar as cargas. As perdas para o transporte de combustíveis são
de R$ 100 milhões a cada ano.
Os
desvios de combustíveis financiam os garimpos ilegais, a prostituição
infantil, a sonegação de impostos e geram a perda da qualidade dos
combustíveis a partir da adulteração. Os pontos mais críticos do
Amazonas são trechos entre os municípios de Iranduba até Codajás, na
comunidade de Novo Remanso (na chamada boca do Rio Madeira), além do
trecho do Rio Madeira que segue de Humaitá à Manicoré, no Sul do estado.
Para
o presidente do Sindarma, Dodó Carvalho, ações de inteligência são as
medidas mais eficientes para identificar e prender os criminosos, que
tem agido de maneira articulada nos rios da região. O mapeamento das
áreas de maior incidência de ataques de piratas facilitaria o combate
aos crimes nos rios, avaliação do líder sindical.
“O
trabalho de inteligência da polícia é a melhor medida que pode ser
tomada no sentido de mapear todas as quadrilhas. Sabemos que o Amazonas é
um estado de tamanho continental e se não tivermos uma polícia de
inteligência não conseguiremos vencer a grande organização criminosa que
está se instalando no nosso estado”, enfatizou o presidente do
Sindarma.
O Sindarma propôs que seja
articulada uma ação integrada entre a Secretaria de Segurança Pública
(SSP), Secretaria de Fazenda (Sefaz), a Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Polícia Federal e Marinha.
Uma
parceria para repasse contínuo de informações das empresas do setor
para Delegacia Fluvial foi acordada durante a reunião, que contou com a
presença do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários do
Amazonas (Sintraqua), ainda de empresários do transporte de cargas e
passageiros. Um novo encontro será marcado para debater a articulação
conjunta, reunindo a polícia, entidades sindicais e órgãos públicos.
Casos
O
Sindarma fez um relatório que reúne alguns dos casos de ataques de
piratas cometidos contra as embarcações que navegam em rios da Região
Norte do Brasil. Ao todo, 21 ocorrências de ataques de piratas entre
2002 e 2009 ocorreram no Amazonas e parte do Pará. O número inclui uma
ocorrência registrada em 2015 na Polícia Civil do Amazonas.
Os
casos foram enviados pelas vítimas ao Sindarma. Entretanto, a maioria
dos casos não é registrada nas delegacias nos estados. A impunidade e o
receio das retaliações dos criminosos inibem as vítimas, que não
denunciam. A SSP-AM não possui levantamento sobre o número de casos
registrados no Amazonas.
O caso mais
recente foi o furto de uma balsa de 400 toneladas, na madrugada no
último dia 28. A embarcação estava atracada em uma boia de atracação no
Rio Negro, no bairro Santo Antônio, na Zona Oeste da capital.
A
embarcação nominada “Golfinho 7”, que é avaliada em R$ 300 mil estava
atracada em uma boia no Rio Negro a 500 metros de distância da margem
esquerda do rio, trecho próximo à avenida Padre Agostinho Caballero
Martin. No local havia também outras balsas. A balsa furtada pertence a
empresa de navegação Francis José Chehuan & Cia Ltda, que atua com o
transporte fluvial de combustíveis e carga geral.
Segundo
o delegado Rafael Costa e Silva, após tomar conhecimento do furto a
equipe de investigação acionou o Departamento de Operações Aéreas para
fazer buscas na Região Metropolitana de Manaus.
“Assim
que soubemos da ocorrência acionei o Departamento Operações Aéreas e
fizemos um sobrevoo até Itacoatiara, Nova Olinda do Norte e depois
voltamos por Manacapuru, mas infelizmente até agora nada. As
dificuldades de identificação são maiores porque os casos acontecem nos
rios e à noite”, revelou o delegado.
O
empresário André Araújo, que é proprietário de uma empresa de
transporte de carga geral e passageiros, também participou da reunião e
relatou que teve que arcar com prejuízo de R$ 38 mil depois que o barco
foi furtado ainda na orla de Manaus.
“Toda
noite têm furtos e assaltos na orla. Temos uma embarcação que viaja
para Tabatinga e transportamos mercadorias de terceiros através de
frete. Em uma dessas viagens fomos solicitados para levar 30 motores de
popa, geradores, carne de charque e cimento. Quando foi de manhã
verificamos que a escotilha estava aberta e 25 motores de popa tinham
sido furtados, além de caixas com carne de charque. Arcamos com o
prejuízo e acionamos a polícia. A polícia veio fez um trabalho de
investigação, mas até agora nada”, afirmou o empresário.
Falta de estrutura
No
Amazonas, a Polícia Civil conta com uma Delegacia Fluvial, mas na
estrutura de segurança pública do estado não há um grupamento
especializado de policiamento ostensivo com foco nos crimes em rios.
A
Delegacia Fluvial foi inaugurada em 2006 e sua jurisdição abrange todo o
estado. Entretanto, a principal embarcação da especializada fica
atracada em Manaus se desloca para eventos populares em municípios do
interior do estado e para realizar operações.
A
delegacia funciona em um ferry boat e conta ainda com duas pequenas
lanchas. O efetivo da Delegacia Fluvial tem apenas um delegado, sete
investigadores, um motorista policial e alguns tripulantes do setor de
manutenção. O delegado da Delegacia Fluvial ressaltou que é preciso
trabalhar a prevenção. Uma das dificuldades mencionadas pelo delegado é
falta de uma embarcação com maior capacidade e velocidade.
“Temos
uma estrutura relativamente boa, mas poderia melhorar no seguinte
quesito. Hoje não temos uma lancha expressa, que é uma embarcação com
capacidade de levar de 30 a 40 pessoas, com deslocamento rápido e maior
autonomia de navegação. Atualmente, se eu preciso deslocar uma equipe
para Manicoré ou Borba teremos que ir no ferry boat, que é um meio de
transporte muito pesado e demora até dias para chegar”, comentou Rafael
Costa.
Fonte: http://acritica.uol.com.br
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